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13.4.20

Madrugada e Meia – A Viúva Negra


Capitulo 4 


Desde cedo meus olhos verdes me rendem belos elogios, minha mãe era muito pobre e meu pai nem cheguei a conhecer. Com 12 anos, eu fiquei aos cuidados de Madame Beatriz, uma senhora que ia todos os anos em nossa cidadezinha e nessas idas e vindas, comprava alguma propriedade, havia muitos rumores que ela era rica, então sem muitas esperanças de futuro, minha mãe resolveu me deixar aos cuidados dela, acreditando garantir um futuro para mim.
Madame Beatriz me levou para sua casa que era enorme, linda, com vários quartos e tinha muitas meninas por lá, era uma manhã de sábado encantadora, essa casa ficava na Serra entre Santos e São Paulo bem no meio do mato, seu único acesso era pela Via Anchieta, depois eram estradas de terra batida serra adentro.
Nos primeiros dias, fui tratada como uma princesa, todas as meninas que moravam ali foram amáveis comigo, menos Izabel que, ao me ver, me encarou fundo nos olhos e exclamou que eles seriam minha própria maldição, meu corpo ia ser tragado num gole só na primeira noite, eu para ela era fraca. Mas não entendi o motivo de tanta raiva, afinal, havia acabado de chegar naquela pousada, as meninas disseram que ela era assim mesmo e que estava somente com ciúmes por deixar de ser a mais nova, a xodó da Dona Beatriz. Passei 3 dias de princesa para ter a pior noite de toda minha vida, nesse dia logo pela manhã, o clima de euforia em algumas garotas e o olhar triste de outras anunciava o que seria a famosa: “chegada dos bacanas”. De noite, todas nós nos arrumamos, nos perfumamos e eu vivi a ilusão de que seria uma simples festa. Eu não sabia que aquela seria a noite da minha iniciação, não sabia também que aquilo era um prostíbulo e eu era a mais nova aquisição da Madame Beatriz. Eu fui vendida a um velho gordo que fedia a estrume, ele tentou me beijar e por várias vezes neguei. Então, Madame Beatriz me chamou de canto e me deu um tapa no rosto, disse:
- Agora minha filha, agrade aquele homem, faça tudo o que ele desejar se você quiser comer daqui por diante, não será só ele, então seja rápida, enxugue as lágrimas desse rosto e faça o que eu mandei! Mal havia sentado novamente do lado daquele gordo nojento e ele me pegou pelo braço, me puxando com força, enquanto soltava gargalhadas e dizia:
- Vamos garota, eu não tenho a noite toda, vou te domar hoje!
Ele me levou para o quarto, me jogando na cama assim que entramos, ele tirou a camisa e gritou para eu tirar minha roupa, eu estava com muito medo e chorava muito enquanto ia me despindo até que, sem paciência, aquele porco começou a me bater. Enquanto estava em cima de mim, dizia várias coisas obscenas até que parei de resistir, então levei minha cabeça aos tempos em que vivi com minha mãe para me confortar mediante aquele horror. Passei quatro longos anos naquele lugar, aprendi tudo o que não presta e o que não deve ser feito, um dia, um dos meus clientes, um senhor peculiar, me pediu em casamento para Madame Beatriz e ela aceitou. Ele se chamava Jonas e tinha 89 anos, toda semana estava na Casa de Madame Beatriz e era o único que frequentava aquele lugar para não fazer sexo ou usar drogas, ele era viúvo e muito solitário. Ia até lá por causa da animação da casa. Eu o conheci no primeiro ano e nos tornamos amigos, ele pagava para que durante toda a madrugada apenas conversássemos. Naquela noite, fomos para São Paulo, ele morava sozinho em uma casa no Jardim Paulista, mas me deixou em um hotel dizendo que iria preparar o casamento, eu não acreditei de início, eu tinha uma sensação de que iria acabar em pesadelo esse sonho, porém, ele em dois dias, havia preparado tudo e eu estava subindo num altar. Eu pude casar porque madame Beatriz falsificou meus documentos para me trazer para São Paulo, tudo correu bem, o salão da festa, tudo maravilhoso. Durante essa festa, Izabel chegou e perguntou se naquela noite eu faria sexo com meu príncipe encantado, me dando dois comprimidos de forma sigilosa, eu então os coloquei na alça do vestido e retribuí com um sorriso safado, afinal, seria uma boa forma de agradecer aquele homem que me livrara dela e de todo aquele inferno. Um doce engano, eu coloquei um comprimido na taça de champanhe do Jonas e depois de uma comemoração super animada, fomos embora. Quando chegamos ao quarto, o comprimido começou a fazer efeito, ele estava todo animado, sinceramente, eu nunca havia feito daquela forma tão gostosa, a sutileza do amor que deu liberdade ao fogo e na madrugada um gozo intenso, na manhã seguinte ele estava morto. Um ataque cardíaco durante o sono fez com que ele me deixasse viúva com apenas 16 anos e eu sem saber o que fazer, chamei a polícia.
Os policiais descobriram que eu estava com documentos falsos e o comprimido de Viagra que ainda estava em meu vestido, me chamaram de aproveitadora, falavam a todo instante: - Viúva Negra, sua Viúva Negra. - Eles me levaram para a um centro correcional por falsidade ideológica e tentativa de homicídio, mas graças ao advogado do Estado que frequentava o salão da Beatriz, fui solta por um Habeas Corpus. Durante os primeiros três dias, ofereci meu corpo por dinheiro e no quarto dia, eu já havia garantido um mês de aluguel de uma casa pequena, saí para procurar emprego e consegui em um bar como atendente, tocava umas músicas estranhas e as pessoas eram esquisitas, mas gostei do lugar. Eu aluguei uma casa nos fundos desse bar, com o tempo eu me tornei conhecida por lá, todos os garotos queriam ficar comigo, alguns eu confesso que adorei ter em minha cama, outros nem tanto. Durante meu expediente, comecei a locar minha cama para alguns casais, gerando assim uma renda que dava para me manter, um dia durante o trabalho atendendo aos bêbados estranhos que frequentavam o bar, fui paquerada por um moreno alto que falava baixinho, tomava doses de tequila como se fosse água. Conversamos muito até que terminou meu expediente, saímos dali e fomos a outro barzinho, o qual pude compartilhar de algumas doses, ele falava sobre vários assuntos, mas meu interesse era em sua boca e como num passe de mágica, o cara apagou, caiu desmaiado em cima da mesa, eu tentei reanimá-lo, mas sem sucesso. Liguei de um orelhão para uma ambulância retirá-lo. Chegando ao hospital, ele foi encaminhado para uma sala com várias macas, apenas um rapaz estava tomando soro e dormia no canto, logo ele acordou e continuamos a conversar, parecia que nada tinha acontecido a ele, devido a minha precaução, ele não entrou em coma alcoólico. Em um determinado momento, o rapaz do fundo se levantou e foi se aproximando, quando chegou perto caiu no chão, então, eu com a ajuda o coloquei na maca ao lado. Pouco depois, caiu mais uma vez em sono profundo, então resolvi ir para casa, deixei meu endereço anotado junto a sua carteira e saí do hospital. Por ter sido acusada de roubo, tive que sair daquele emprego e por consequência, perdi a casa. Acabei passando algum tempo em pensões e hotéis, até que encontrei Izabel na rua, eu estava indo ao mercado comprar uma garrafa de vodca para aliviar o estresse, ela estava caminhando pela rua desnorteada e perdida. Conversamos um pouco e ela me contou que havia fugido da casa da Madame Beatriz e estava morando em uma casa na zona norte, ela não iria conseguir pagar o mês de aluguel e estava em desespero. Como que por obra do destino, eu decidi morar com ela, eu tinha uma grana guardada e não estava gostando de pular de canto em canto para dormir, foi daí que nasceu uma amizade forte entre nós, nos tornamos irmãs! Sempre saíamos para bares e festas, bebíamos juntas e aquilo realmente era muito divertido.


Um amigo de Izabel nos convidou para ir a uma festa onde haveria uma banda que iria tocar Sex Pistols e eu adorava, me arrumei inteira para aquela festa, estava inteiramente montada, pronta para uma noite de diversão. Na última hora, Izabel desistiu de ir, mas fui mesmo assim. O palco era imenso e o show estava lotado, era em um galpão que não tinha luz, todos estavam muito bêbados e foi no meio desses bêbados que encontrei o homem que mudaria minha vida.
Aquele era um tipo misterioso, mas familiar, ele chegou a mim e me chamou pelo nome. Não como todos que me chamavam de Viúva Negra, o que me fez dar a ele mais atenção do que devia, eu estava bêbada. Só por ele saber meu nome já ganhou carícias maliciosas e beijos no canto da boca, ele era bom de papo e conforme a conversa se fez durante o show, ele contou que era o cara do hospital e que naquele dia havia bebido todas. Eu estava muito bêbada e confesso que ele me agradou desde o primeiro momento, aí, dentro daquele galpão lotado de gente, nós fizemos o amor mais selvagem que conheci em minha vida, claramente não deixei que ele escapasse, eu tinha comigo a necessidade de ter alguém do lado, ainda mais alguém que era uma máquina de proporcionar prazer! Vivemos bem por alguns meses até que ele começou a ter medo que eu o matasse, todo o dia brigava muito comigo, resultando em marcas roxas em ambos, uma vez ele me deixou com os dois olhos roxos depois que quebrei uma garrafa de absinto em sua cabeça. Em outra situação, no meio de um barzinho, ele se enfiou no banheiro com duas piranhas atrevidas que viviam dando em cima dele, não pensei duas vezes, desci a lenha naquele infeliz traidor! Ele me deu um tapa na cara e saiu como sempre fazia em nossas brigas, sabe, virava de costas e saía andando sem falar uma palavra, depois de horas voltava, mas daquela vez foi estranho porque ele me olhou com lágrimas nos olhos, então senti que não mais o veria, mas devido ao nervosismo, eu estava desnorteada, sem reação e olhava pra ele se afastando, nisso um aperto no coração e um nó na garganta me fez desmoronar em choro e ir atrás dele, por mais estranho que fosse, por mais paranoico que ele se mostrasse, era um amor de pessoa, me realizava e eu não podia perdê-lo assim. Eu o segui por algumas quadras até que ele parou do nada, puxou uma faca pra mim e começou a gritar: - Sai de perto de mim, eu não quero morrer na sua mão! – eu fui me aproximando devagar, via claramente que ele não estava normal e então ele veio tentar desferir uma facada em minha barriga, sendo que eu apenas me afastei para o lado e ele caiu no chão, nisso, abaixei para retirar a faca de sua mão antes que ele se machucasse. Infelizmente, por ele se debater demais acabei ferindo seu rosto, aquele sangue jorrava de seu rosto, o que me causou um medo incontrolável. Escutei um barulho estranho e com medo de ser a polícia eu corri, desesperadamente corri sem destino e sem olhar para trás. Cheguei depois de algumas horas no barzinho onde estávamos com a mão ainda molhada de sangue, me tranquei no banheiro por alguns minutos e saí tentando disfarçar que nada tinha ocorrido entre eu e meu namorado. Logo chegou a notícia no bar, uma gang o havia esfaqueado e ele estava num hospital próximo. Decidi ir até lá e depois de algum tempo levando pontos, eu o levei para casa. Nós morávamos em uma casa invadida, sem móvel, apenas uma cama de casal e era aquilo que nós tínhamos, ele além de beber, usava muitas drogas e eu acabei pegando o mesmo gosto. Naquela semana que passou, nos internamos para tratarmos os vícios de álcool e drogas, eu não saí de casa, afinal, era ele que buscava tudo. Depois de seis dias vivendo a base da loucura, ele saiu em busca de mais cocaína e quando voltou, estava portando uma arma, era daquelas com o “tamborzinho” aparente, calibre 38. Parecia uma criança feliz, chegou e disse: pronto, agora eu começo a roubar e sairemos dessa dureza, veja quantas balas eu trouxe? Eu como nunca peguei em uma arma, quis ver como era senti-la na mão, o peso e o poder que ela passava, assim que ele me entregou, eu abri o tambor de maneira atrapalhada e fui retirando bala por bala, deixando apenas restar uma única. Para fechar, girei o tambor e segurei firmemente em direção a ele, o gatinho estava encaixado perfeitamente em meu dedo indicador então: “Click” apertei o gatilho por acidente, na hora pensei tê-lo matado e o susto fez com ele arrancasse de minha mão a arma. Naquele instante, ele apontou para minha cabeça e disse:
- Você gosta de fazer roleta russa? Vamos ver se gosta de fazer com a mira na sua cabeça? “Click, Click”
O suspiro foi inevitável ao ouvir dois sons da falha da arma e o desmaio se tornou inevitável, ao acordar ele não estava, sai para procurar e o encontrei no beco proximo de casa caído morto, ele levou um tiro na cabeça, na parte de trás, descartando suicídio como hipótese da morte. A imagem dele caído ao meu lado, ainda com os olhos abertos me olhando não sai da minha cabeça, a tristeza por dois amores mortos invadiu minha alma e fez com que eu me isolasse mais uma vez do mundo. Devido à televisão que fez do caso a notícia da semana, pesou ainda mais a dor que eu sentia. E graças à veiculação da notícia, Izabel novamente me procurou, dessa vez dizendo que pagaria as contas comigo, pois quando precisou de alguém, fui eu quem ajudou e ela devia retribuir naquele momento também. Aquela semana foi horrível, eu não queria sair da cama, chorava o tempo todo. Duvidei até que um dia seria feliz, mas chegado o final de semana, Izabel me convenceu que deveríamos sair para jogar bilhar, não vi problemas, afinal, nada de mal poderia acontecer numa partida, então nos dirigimos a um bar na rua de cima da casa onde Izabel morava. O jogo até foi tranquilo, porém, dois caras me seguraram pelos braços e me deitaram em cima da mesa, pensei na hora que se tratava de estupro, comecei a me debater, a chutar e a gritar, nessa hora, um cara se levantou e começou a socar os caras que me seguravam. Eu, em desespero, peguei uma garrafa que estava em cima da mesa e a quebrei na cabeça de um dos dois depois dele ter dado um soco no Johnny, com os cacos desfiei a barriga do outro que vinha com um pedaço de pau. A confusão se tornou inevitável, garrafas voando, cadeiras quebradas, gritaria e o sangue nas minhas mãos novamente. Uma faca que caiu das mãos de um deles acabou sendo enterrada no corpo de um de meus agressores. Eu não conseguia tirar os olhos daquele cara que me defendeu e lembrei do dia em que o vi pela primeira vez no hospital, há tanto não o via. E como ele estava forte e bonito, então a polícia chegou, claro que de todas as pessoas só ficamos eu e ele. Dentro da viatura depois de ter sido jogado desacordado, acabei colocando sua cabeça em meu colo, fazia carícias como se faz em uma criança, ele ficou aconchegado até que acordou. Pouco depois, fomos trancafiados em uma cela suja na delegacia, momento em que percebi que ele não me reconhecia, me perguntando o que havia acontecido. Em seu desespero, ele me acusou de ser uma assassina e eu o acalmei selando suas lástimas com um beijo, beijo esse que logo se tornou um incêndio, apagado com a figura de um policial que veio nos libertar. Saímos da delegacia de braços dados e ele estava todo animado dizendo que nunca tinha encontrado uma garota como eu, queria logo sair daquele chiqueiro para ir a um lugar mais tranquilo onde poderíamos continuar o que começamos na cela. Claro que a ideia era bem-vinda, já que desde a primeira vez que o encontrei ficou faltando algo.
Algumas ruas adiante, novamente encontramos aqueles caras, eram muitos. De alguma forma, eles queriam minha morte e eu não entendia o motivo, eu não sabia o que tinha feito para eles, então Johnny segurou forte em minha mão e a soltou, olhou no fundo dos meus olhos e murmurou: - confie em mim. Ele se virou para o grupo e me colocou como um troféu para a briga que estava prestes a começar, então do outro lado, junto com todos aqueles marmanjos, um magrelo de cabelo laranja e que era o único que falava, puxou do bolso uma faca, seria a mesma faca abrigada no corpo do cara no bar?

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12.4.20

Madrugada e Meia – O irmão falecido


Capítulo 3


Minha mãe era um pouco estranha, de tempos em tempos se trancava em seu quarto, passava dias sem olhar para luz do sol ou para a cara das pessoas, nem mesmo para a minha e a do meu irmão mais novo. A única ordem expressa da mamãe era que não poderíamos sair de casa, era somente na hora de ir e voltar da escola que víamos a cara da rua, até que começou a beber, às vezes um minuto fora da hora valia algumas palmadas e gritos, nós nunca sabíamos ao certo quando ela estava em casa, não adiantava bater na porta do quarto. Nós, por isso, acabávamos presos dentro de casa o dia inteiro assistindo à televisão, brincando em silêncio para não incomodar porque isso também rendia gritos e pancadas.
Um belo dia ao voltar da escola, encontramos a porta trancada, chamamos por horas e nada da minha mãe sair, o Guto era novo demais e estava com fome, por sorte eu roubei da carteira de minha mãe alguns trocados, era para comprar figurinha, mas decidi salvar meu pequeno irmão da fome, nem quando voltamos a porta se abriu e foi assim por longos 4 dias, então, os policiais chamados pelos vizinhos arrombaram a porta e nossa mãe estava morta, ela tomou soda cáustica suicidando-se sem ao menos chamar por socorro. Após isso minha infância foi em abrigos para bastardos, no primeiro dia que entrei com o Guto, por ser muito novo, ele chorava e isso acabou incomodando alguns dos meninos, sabe aqueles que querem bater em todo mundo? Na primeira vez eu deixei, na segunda eles mexeram com o Guto e comigo e na terceira, eu dei meu primeiro soco, mas também tomei meu primeiro soco na cara, aquilo me rendeu um nariz quebrado e o jorro de sangue acabou por chamar atenção dos monitores que nos castigaram a todos, por causa desse episódio, me tornei um garoto popular entre as outras crianças e foi onde conheci o Johnny, o nome dele é João Otávio Pinto e na adolescência adotou o apelido de Johnny. Fizemos uma amizade que durou apenas alguns meses, pois fomos expulsos do abrigo devido as artes que aprontávamos, o Guto era o mais novo e tinha muito medo das coisas, Johnny sempre foi desencanado com tudo e eu, o agitador mirim, gostava de tudo que dava prazer. Desde menino fui assanhado, o que me rendeu a muitos castigos, Jhonny foi expulso porque foi pego transando com uma das monitoras separando para sempre aquele trio. Os anos foram passando até que resolvemos fugir do orfanato, eu devia ter meus 16 anos e tinha uma predisposição imensa à vida noturna e, na primeira oportunidade de sair para a noitada, conheci uma garota que me deu meu primeiro disco do Sex Pistols, o nome dela era Jéssica e como era linda aquela menina, desse dia em diante, eu não dormia mais em casa, passava 3 ou 4 dias fora e raramente não chegava embriagado. Guto era mais tímido e adorava ouvir minhas aventuras, um dia por causa do seu aniversário, eu o levei comigo a uma festa que acabou em uma tremenda briga, garrafas voando e para variar, eu estava quase caindo de tão bêbado. A briga estourou para cima de mim e do Guto e, infelizmente, ele tomou uma garrafada na cabeça. Acabamos indo parar no hospital, ele com traumatismo craniano e eu em coma alcoólico. Quando acordei e vi o saco de glicose pendurado, escutei um casal conversando sobre uma festa que realmente havia sido boa, olhei para o lado e a garota que estava em pé era a Jéssica. Inacreditavelmente, o cara deixado ali também tomando glicose era o Johnny. Quase caindo me aproximei, mas ao chegar perto tropecei em uma cama que havia no caminho e caí de boca no chão, bem nos pés daquela garota, obviamente ambos gargalhavam enquanto a Jéssica me ajudava a se levantar. Conversamos bastante até que em determinado momento, um médico entrou e me falou que meu irmão ainda estava em coma. Ele precisava do telefone de nossos pais, então um choque de realidade bateu em mim e em meio ao desespero pela culpa de ter causado mal ao meu irmão, dei o telefone da residência de alguns amigos maiores de idade, que se passavam por nossos pais quando rolava uma emergência. Guto passou alguns dias em coma e quando acordou não se lembrava de nada do que tinha acontecido antes, não lembrava sequer que eu era seu irmão! Resolvi que aquele era o momento de largar tudo e seguir minha vida, fugi de casa mais uma vez deixando Guto a própria sorte e acabei vivendo pelos bares, pelos cantos, entre ruas, então no meio de uma das minhas andanças pelo centro da cidade, eu encontrei novamente o Johnny. Ele estava bebendo algumas cervejas e me chamou, fomos morar juntos em uma colônia instalada em um prédio abandonado, ele se tornara viciado em drogas e também estava sem residência. Juntos, como irmãos, vivemos durante dois anos, furtando mercados e bebendo até cair todos os dias.
Um dia, num show de uma banda que cantava as músicas dos Sex Pilstols, eu reencontrei Jéssica, ela era conhecida por Viúva Negra, na ocasião, me contou que casou com um velho e na lua de mel, ele morreu na cama de ataque cardíaco. Ela era chamada assim por essa razão. Nós nos entendemos e ela me ensinou a arte, tudo sobre as noites da cidade, sobre o estilo alternativo, acabamos nos tornando um casal bem feliz apesar das brigas que iam de troca de socos e pontapés, ela batia mais forte e eu sempre estava bêbado, assim fomos vivendo.
Certa vez, num barzinho na Zona Norte, após ter vomitado até as tripas, começamos a discutir feio e partimos para agressão física, aquilo me fez querer ir embora, ela me seguiu aos berros por um longo caminho até que parei. Num impulso descontrolado, puxei da cintura uma faca que carregava comigo para casos de emergência, eu estava muito bêbado e estimulado pela cocaína, não tinha noção das coisas que estavam acontecendo. Ela me desarmou, me deu uma facada e nesse momento como por ironia do destino, depois dela fugir, eu fui salvo pelo Guto e sua turma. Depois do acidente, ele se tornou uma pessoa muito diferente, estava mais violento, formou uma gang e saía pelas ruas entre confusões e arruaças, eu não sabia quantas sequelas havia deixado aquele acidente. Ele não me conhecia mais devido a sua perda de memória, ao esticar a mão e perguntar se estava tudo bem, eu o reconheci e desmaiei, ao acordar, eles estavam me carregando para um pronto socorro, o Guto se virou para mim e disse:
- Pô cara, você perdeu bastante sangue, sua sorte que te encontramos hein!
Eu só fiz um sinal com a cabeça e tentei me erguer sozinho, eles improvisaram uma atadura com uma camiseta. Eu me recompus rápido e segui com eles até o pronto socorro, no caminho cheguei ao meu irmão e falei:
- Você é o Guto? Filho do seu José e da dona Gumercinda?
- Sou cara, mas para você conhecer meus pais deve ser policial ou inimigo.
Ele puxou uma buterfly e a rodopiou entre os dedos, jogou pra cima e quando a pegou aberta, a ponta já estava bem próxima do meu pescoço, ele disse depois de uma gargalhada:
- Meu Irmão, vai falando antes que não tenha mais língua, já ouviu falar em gravata colombiana?
- Espera, calma sou teu irmão, não se lembra? Aquele acidente foi culpa minha ou é mentira que teve um traumatismo craniano e passou um tempo no hospital?
- Eu sou filho único e você já sabe de mais da minha vida, vai começando a rezar! Galera vamos primeiro dar um pau neste aqui e depois o desovamos em algum canto.
Foi neste momento que me levantei com uma coragem que não sei de onde veio, olhei no fundo dos seus olhos e contei como nossa mãe tinha morrido. Os olhos dele encheram de lágrimas e num surto psicótico, ele mandou que todos se afastassem, me deu um abraço e disse:
- Essa é a única coisa do meu passado que lembro, vou acreditar que é meu irmão, mas se mentir para mim cara, não será só o seu rosto que ficará marcado à faca, não me lembro de ter irmão, mas meus amigos me contaram do acidente e ninguém conhece essa história. Chegando ao hospital depois de me costurar, a enfermeira disse que os rapazes que chegaram comigo deixaram um pedaço de papel e pediram para me entregar. Estava escrito:

“Se o que me disse é verdade, te defendo com minha vida, se o que diz for mentira, tua vida e de todos os seus serão castigadas!
Enquanto isso não nos procure, deixe que nós te encontramos.
Marginais Sóciopatas.
A mais temida! ”

Ao sair do hospital, encontrei a Jéssica em prantos com uma saudade que nunca havia visto nela e fomos para a casa que estávamos ocupando. Naquela semana, eu acabei morto ao buscar drogas em um beco, dois caras em cima de uma moto passaram atirando, mas eu havia marcado a vida de todos os que foram importantes para mim.


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11.4.20

Madrugada e Meia - O líder da gang.

Capítulo 2 


Uma semana após o falecimento de meu irmão de sangue, em uma noite tensa na qual tivemos que mudar o caminho de volta para casa. Todos da minha gang estavam cansados depois de entrarmos em uma briga daquelas que mais parecem guerras medievais onde todos saem correndo um grupo em direção ao outro com espadas e correntes. Tivemos que passar por um barzinho ao norte da cidade que era frequentado por todos os arruaceiros e marginais daquela região, mas como eu havia passado minha infância naquelas ruas, até achei melhor que por ali fosse. Como de costume, o bar estava lotado e a nossa chegada causou certo impacto, todos nos olhando como se fosse chegada a hora da morte, incrédulos com a entrada gloriosa da minha gang e para causar impacto chegamos fazendo toda zona possível. Atravessamos a rua então, avistei um cara cujo nome era Johnny, ele era um amigo de longa data de meu falecido irmão, eles saíam juntos para várias festas e meu irmão me contava sobre as aventuras que vivera ao lado daquele cara, então não resistindo à lembrança de meu irmão, fui cumprimenta-lo enquanto pedia uma cerveja.
Puxei assunto com ele, mas parecia que ele não havia me reconhecido, então resolvi contar algumas das aventuras que meu irmão me relatava, mas eu falava como se eu fosse meu irmão, lembrei de uma muito engraçada em que ele muito bêbado acabou dormindo em cima de uma cama e acordou embaixo dela. Após eu pedir mais uma rodada, o papo começou a desenrolar mais engajado, até que em determinado momento, uma garota pediu para nos afastarmos para fazer uma jogada na mesa de bilhar, claramente nos afastamos e então aquela abaixada me fez ver estrelas, ela tinha um quadril esplêndido delineado pela calça apertada. Ao se levantar, reparei em uma tatuagem subindo pelas costas e a reconheci, era a viúva negra, a namorada e assassina do meu irmão, não poderia perder a oportunidade de fazer justiça e derramar o sangue daquela puta. Imediatamente, dei um sinal para meus companheiros que a agarraram com dificuldade, e como ela se retorcia como uma gata selvagem prestes a ser capturada, o Johnny levantou-se desferindo um soco direto na cara de um companheiro, puxei minha faca e levantei, neste momento devido a uma porrada que havia levado, Johnny caiu em cima de mim e eu apaguei. Um de meus companheiros havia me retirado do bar antes da chegada da polícia e quando acordei, me contou que um dos nossos havia se ferido e tinha sido levado para um hospital próximo, então nos dirigimos até lá. No meio do caminho, encontramos o Johnny de braços dados com a Viúva Negra andando calmamente por uma rua deserta, entendi então o motivo do assassinato de meu irmão, era um plano dos dois para que ficassem juntos e é claro que meu irmão estava no caminho. Olhei Johnny dos pés à cabeça com todo ódio que a vida me deu, este maldito também tirou a vida de meu irmão e estava ali com seu troféu, vangloriando-se da vitória, não me contive então disse:


- Até que não está tão machucado, acho que deveria entender o que significa mexer com meus amigos, tudo tem um preço e eu cobro adiantado!
- Meu caro, olhe a sua volta, não tem chance de escapar e se você queria essa garota, poderia ter me avisado, eu pegava a outra!
Ele largou a mão da viúva e intimou-me para uma briga somente entre eu e ele, naquele momento tive a certeza que havia sido ele o mandante do crime e também deveria pagar com sangue a vida de meu irmão. Minhas pernas inquietas tremularam de nervoso, sacudiam-se dentro das calças, minhas mãos suadas seguravam firme minha pequena buterfly e eu pensava em como derrubar aquele brutamonte que já tinha derrubado muitos outros com apenas um soco.

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10.4.20

Madrugada e Meia - A noite começa do fim para o começo

Capítulo 1


A noite estava pra começar e eu, na minha empolgação adolescente, resolvi que iria sair para beber com amigos num barzinho que tinha no bairro de Santana e que não era tão longe da minha casa. Eu coloquei meu melhor jeans, minha jaqueta de couro e meu coturno brilhante de tão engraxado, me sentia super arrumado, iria arrasar naquela noite.
O caminho até o bar foi tranquilo e lá chegando, encontrei com meus saudosos amigos bêbados incorrigíveis que veneravam as garrafas e latinhas de cerveja empilhadas na mureta. Havia também duas garotas lindas jogando sinuca e, enquanto eu aguardava a chegada da minha cerveja, acendi um cigarro e observava hipnotizado aquelas duas maravilhas que jogavam sinuosamente como serpentes prontas para darem o bote, eu nunca havia percebido a sensualidade daquele jogo. Chegando minha cerveja, a derramei no copo suavemente deixando um dedo de colarinho e então, elevei o copo para degustar meu primeiro gole quando um estampido ensurdecedor interrompeu meu pequeno ritual. Olhei assustado para a rua na direção do barulho e vejo um grupo de pessoas chegando, algumas armadas com pedaços de pau, outras com rojões, todas rindo e falando alto, fizeram aquilo para chamar atenção como quem diz: Olhem só! Chegamos!
Nem dei bola, me virei novamente para tomar meu precioso néctar gélido e amargo, nisso reparei que as duas moças que, jogavam tão eroticamente, haviam parado para olhar o grupo escandaloso que tinha acabado de chegar, elas murmuravam baixinho e olhavam para o grupo como quem escolhe a próxima vítima.


Os meus amigos na mesa comentaram que o grupo que chegou não era daquelas bandas e era muito esquisito chegar fazendo tanto alarde, até que um cara que chamávamos de amarelo devido a uma hepatite, ele tinha os olhos e a pele em tons amarelos, se virou e perguntou se eu conhecia. Claro que nem reparei nos caras, havia uma cerveja gelada e duas mulheres lindas a minha frente, mas como a entrada deles havia quebrado a harmonia do local, eu me virei novamente para vê-los. No primeiro instante nenhum conhecido, até que saiu do meio deles um cara magrinho de cabelo laranja e veio em minha direção, me cumprimentou e falou coisas como se me conhecesse muitos anos, mas eu não o reconheci, ainda assim o convidei para sentar-se e tomar uma gelada comigo. Aquilo me intrigou, pois jurava não conhecer aquele sujeito, ele contou sobre lugares onde eu estive e situações que realmente eu havia vivido, mas eu não me lembrava daquela figura.
-Desce uma caixa de cerveja garçom, eu banco essa rodada. - disse aquele magrelo que começou realmente a ficar mais familiar. Doses vêm, doses vão e ele contando sobre diversas coisas, lugares e acontecimentos os quais ele jurava que estava junto como da vez em que fiquei muito bêbado, dormi em cima de uma cama e acordei em baixo dela. De outra vez em que saí com a filha de um policial e o cara começou a me perseguir pelas ruas, dizendo que me mataria ou cortaria meus testículos se eu encostasse a sua imaculada filha. O engraçado é que tais situações eram verdadeiras, eu as tinha vivido! Mas, eu sempre estava bêbado ou drogado demais para me lembrar de todos que vivenciaram aquilo comigo. Até que em determinado momento, as duas garotas que ainda continuavam o jogo de sinuca, se aproximaram da mesa onde eu estava sentado conversando com aquela coisa de cabelo laranja, uma delas iria fazer uma jogada e precisava que nós, eu e aquele cara, fôssemos um pouco para trás, claro que um pedido quase orgástico seria impossível de não ser atendido. E naquela hora, quase que instantaneamente, os dois fixaram o olhar no quadril da jogadora que se abaixava lenta e suavemente, deixando a bunda extremamente perceptível, claro que os dois precisaram de um babador com extra absorção, tamanha era a beleza daquele corpo. Terminada a jogada, os dois estavam como zumbis enfeitiçados, nisso veio uma luz e a memória se clareou, aquele cara ao meu lado era um dos gangsteres mais temidos da cidade, era conhecido pela sua habilidade em manipular facas, mas o que ele queria comigo? Eu conhecia uns caras da gang dele, porém, era coisa de tomar umas e outras, nada mais. Será que eu teria feito algo que ele desaprovasse? Se for isso, esse cara vai querer me furar com suas facas afiadas. Então, inesperadamente, o grupo que o acompanhava se aproximou e, como um bando de urubus, se enfileirou em nossas costas, ele se virou dando um sinal com o rosto para um deles que de prontidão foi até a moça que fez aquela sinuosa jogada, a segurando com força pelo braço, deitando-a sobre a mesa. Outros dois caras do grupo foram ajudar a segurar aquela menina que aos berros se contorcia, tentando escapar da violência a que foi submetida. Num súbito instante, me lembrei da época em que lutei boxe e quando voltei à razão, estava com uma garrafa na mão. E bem no momento em que ela se chocava na cabeça do primeiro cara que se aproximou da menina, olhei em minha volta rapidamente e todos estavam com cara de espanto, quase não se moviam. Foi nesse momento que levei um soco na cara de um deles, o sangue subiu e assim que o braço levantado em direção ao meu rosto retornava para junto do corpo, comecei a desferir socos para todos os lados, mas havia esquecido que estava com uma garrafa quebrada na mão, o que rendeu ao agressor um corte fundo no abdômen. Os meus amigos não acreditaram no que eu tinha acabado de fazer, eu enfrentei a gang mais temida da cidade por causa de uma mulher que eu nem conhecia e por acharem a causa justa, se juntaram a mim causando o caos naquele, até então, calmo boteco. Depois de muitas cadeiras voando, garrafas quebradas e sangue escorrido, tudo se acalmou, foi muito rápido, eu ainda estava perdido com o soco que havia tomado e nem percebi que a maioria das pessoas tinha saído daquele lugar. Eu e a garota, ainda pálida em cima da mesa, permanecemos ali enquanto o silêncio lentamente invadia o ambiente. Ela olhava incessantemente nos meus olhos como se nada mais existisse e os dela, cheios de lágrimas, borravam a maquiagem, sua expressão de desespero e sua roupa suja do sangue dos agressores me tiraram do transe e novamente o barulho da sirene invadiu meus ouvidos, eu me virei para trás, um policial enorme me atropelou com seu cassetete me deixando inconsciente. Quando acordei, eu estava dentro do camburão junto com aquela moça, ela me acudiu, colocando minha cabeça entre suas pernas e me acarinhando com as mãos. Até que a viatura parou e as portas se abriram, o policial que me agrediu foi o primeiro que avistei, ele me tirou do carro com força, me puxando para fora e depois a menina foi arrancada do camburão da mesma forma bruta. Eles nos levaram para uma delegacia e nos deixaram dentro de uma cela onde não havia mais ninguém e, até aquele momento, nenhuma palavra foi dita nem por mim e nem por ela, eu quebrei o silêncio e perguntei o que havia acontecido. Por que fomos parar naquela situação? E ela, serenamente, disse que quando eu quebrei a garrafa na cabeça do cara, o rapaz que estava tomando cerveja sentado ao meu lado, se levantou e puxou uma faca. Ele iria me pegar pelas costas, mas ao ter sido acertado no rosto, comecei a lançar socos para todos os lados e acabei acertando ele que, por sua vez, deixou a faca cair. No meio da confusão, ela esfaqueou um dos comparsas dele, nisso a polícia chegou e todos fugiram ficando apenas nós dois, ou seja, estamos sendo indiciados como homicidas.
- Eu não matei ninguém, foi você que matou o cara - eu disse entrando em desespero.
- Infelizmente, o cara que você acertou na cabeça com a garrafa foi quem faleceu - ela disse gritando enquanto segurava firmemente o meu rosto.
Naquele instante, reparei mais uma vez como era linda aquela menina, mas eu estava nervoso e confuso com a situação, sua mão macia e grudenta devido ao sangue não me deixava olhar para nada mais e quando dei por mim, um beijo ardente estava rolando, eu já não pensava em mais nada, minhas mãos que antes estavam trêmulas, passeavam por aquele corpo que no bar eu tanto admirei, por suas coxas e sua barriga. Quando eu estava prestes a tirar sua blusa, um policial chegou dizendo que estávamos livres. Saímos daquela delegacia agarrados como se fôssemos dois amantes de longa data e não fazíamos ideia para onde, queríamos acabar com o pesadelo que havia sido aquela noite, nos deliciando um com o outro.
A noite ainda não havia terminado, mas poderia acabar num motel ou na minha cama, porém, não foi isso que aconteceu, enquanto nos dirigíamos a um local apropriado para continuarmos aquele tão gostoso beijo, encontramos novamente aquele cara com o cabelo laranja. Dessa vez, ele estava acompanhado de um grupo ainda maior e mais armado, eles estavam esperando a gente sair da delegacia, mas por que raios aquele cara me perseguia a noite toda? O cara veio em minha direção deixando o grupo dele afastado alguns metros, me olhou dos pés a cabeça e exclamou em tom de ironia:
- Até que não está tão machucado, acho que deveria entender o que significa mexer com meus amigos, tudo tem um preço e eu cobro adiantado!
- Meu caro, olhe a sua volta, não tem chance de escapar e se você queria esta garota, poderia ter me avisado, eu pegava a outra! – Foi neste momento que ele puxou uma buterfly (faca de pequeno porte que dá para fazer acrobacias). A minha cabeça mais uma vez se voltou à época do boxe, dessa vez em especial de uma luta, minha última luta, eu estava ganhando, mas acabei perdendo por nocaute, a sensação de cair no chão, de perder...
Eu então soltei a mão da garota, olhei no fundo dos olhos do alaranjado rapaz e falei que a luta seria apenas entre mim e ele e o ganhador ficaria com a garota!

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9.4.20

Madrugada e Meia - Prefácio

Setenta e Sete  



Em meados de 1999 a cidade estava calma, a cena punk vinha seguindo quase uma década de tranquilidade, sem grandes problemas, crescendo e atingindo camadas da juventude nunca antes atingidas. O advento da internet trazia aos jovens bandas com sons inusitados, a abertura de lojas na galeria do rock fornecia aos meninos opções fáceis de vestuário, discos e uma nova onda musical recém-nascida nos Estados Unidos vinham com tudo, trazendo a São Paulo um hard core mais melodioso inspirado em bandas de 1977 imbuindo uma nova energia para o movimento.

Haviam meninos ricos que andavam de skate e curtiam hard core melódico, frequentavam festinhas e shows como formigas no picnic.

Dos esgotos sujos dos subúrbios e sarjetas do centro da cidade, nadando contra essa nova corrente e sedentos por uma revolução surgiam as Gangs. Algumas das antigas ressurgiram e outras nasciam em meio a toda aquela cena torpe, progredindo como uma doença num sistema falido. Estuprando a noite da metrópole como uma gripe forte e violenta irrompem os Punks Virus, com um ideal diferente das demais gangs da época. Os vírus juntavam pessoas de quase todas as lugares de SP. Os punks eram regionais se subdividindo entre os do ABC,  que se limitavam na grande São Paulo, os do Subúrbio que ficavam as margens das regiões leste e sul, os da cidade que faziam de seu quintal parte da zona norte e centro e os da zona oeste, anarcopunks que não se consideravam gangs, mas agiam como tal, todos mesquinhos, antipáticos e arrogantes, cada um com a sua verdade. Os tais virus que nasceram a margem da virada do século juntavam pessoas de quase todas as régioes de SP, com uma idéia simples de infectar todas as areas, recrutando punks sem crises ideológicas aos poucos infectando aquela cena em movimento. Entretanto, não simpatizavam com os anarcopunks e com o que eles chamavam “forfun”os  do hardcore melódico, aos poucos foram mudando o cenário.
 Orgulhavam-se de serem gangs, de serem punks,  de onde vinham, todos com o objetivo semântico  de destruir o sistema,  união esta fadada a inevitável ruína. A trajetória curta foi causada exatamente pelo motivo de sua ascensão lancinante, um aglomerado de gente pensando de forma diferente, todos punks, naturalmente, mas com métodos e sub-ideologias próprias de suas localidades. Um coquetel molotov  com pavil curto trazendo com suas breves mas poderosas chamas, a guerra e o caos no cenário punk controverso e violento a beira do milênio.
Foto tirada em 2000 - CENA PUNK SP
Como um câncer se espalhou por todos os bueiros, baratas em cemitérios, não havia uma liderança, haviam jovens drogados e violentos, buscando adrenalina e fugindo da realidade que lhes era imposta pela vida dura. A margem do sistema politico, e enfrentando uma verdadeira batalha sangrenta nas ruas, eles, sem apoio dos antigos, sem apoio dos mais novos, foram vomitados, pisados, rê-ingeridos e defecados, bastardos que deixaram um vácuo no movimento punk que resultou na morte de alguns, classificando novamente o movimento punk como violento e que deveria ser posto a margem da sociedade, trazendo de volta o espirito de 77 onde a guerra e o caos reinavam na cidade, sem bandeiras, sem fronteiras, a Vírus criou um colapso que até nos dias de hoje ainda tem reflexos no cenário punk.

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6.4.20

Pensamentos Urbanos

Estamos voltando com o BLOGGER 

Pensamentos Urbanos

Depois de anos sem publicar nada, iremos retomar as atividades, com outro foco. 
FIQUEM ATENTOS




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De onde vem os Pensadores

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